(...)
Jornalista: Essa situação de pânico não se restringe apenas a população civil. O medo também está atingindo os líderes políticos e religiosos. Tentando zelar pela saúde da população, alguns dirigentes chegaram a tomar medidas extremas, como veremos a seguir em “Estado de emergência”.
(...)
O Prefeito cumprimenta o Padre, depois limpa a mão num paninho com álcool e se justifica sem que possamos entender uma só palavra por causa da máscara.
PADRE SIMÃO: Por favor, eu já não entendi nada do que a sua secretária falou. Dá pra tirar isso?
O Prefeito faz sinal que não pode fazer nada.
PADRE SIMÃO: Como vamos conversar assim?
PADRE SIMÃO: Ah, por caridade, senhor prefeito. Eu tenho algo muito, muito sério pra discutir.
Simão tanta se aproximar do prefeito, que recua.
PREFEITO (afastando um pouco a mascara para falar ao padre): Você viu o aquele prefeito do Mato Grosso do Sul? Até o Uribe pegou! Tenho que me cuidar. A cidade precisa de mim, não posso correr riscos.
O padre Simão pega da mesa do prefeito um porta-retrato com a foto de uma adolescente.
PADRE SIMÃO (propositalmente alto): Quem está correndo risco aqui sou eu. A cidade toda sabe que... Todo mundo sabe que foi a sua filha que trouxe a gripe.
O prefeito pega o porta-retrato das mãos do padre e coloca-o em cima da mesa com a fotografia voltada para baixo.
PREFEITO: E daí? Que importância isso tem? Temos 18 cidadãos sob suspeita.
PADRE SIMÃO: No município inteiro...
PREFEITO: Ora...
PADRE SIMÃO: ...sob suspeita há uma semana...
PREFEITO: Veja bem...
PADRE SIMÃO:...e sem nenhuma confirmação?
PREFEITO: Se o senhor veio até aqui só para dizer o que eu já sei...
PADRE SIMÃO: Não perderia o nosso tempo dessa forma. E reconheço a sua preocupação.
PREFEITO: Somos dois homens sensatos.
PADRE SIMÃO: Eu vejo pontos positivos na sua medida.
Prefeito pega uma garrafa de pinga e dois copos.
PREFEITO: São vários.
PADRE SIMÃO: Um período sem festas vai ser bom pra juventude da cidade, sem aglomerações inúteis, sem balbúrdias.
PREFEITO: E muito mais...
Prefeito serve-se de uma dose. Simão põe a mão em cima de seu copo, impedindo o prefeito de colocar uma dose de pinga para ele, num gesto pouco amigável.
PADRE SIMÃO: Infelizmente tem mais. Essa situação inclui... as minhas missas, isso é...
PREFEITO: O senhor pode sim rezar as missas, como não?
PADRE SIMÃO: Com as janelas da igreja todas escancaradas? De porta aberta, com esse frio? Com esse vento gelado do inverno?
PREFEITO: Para isso existem os agasalhos.
Prefeito pega o seu copo de pinga e sorri. O prefeito dá uma bicadinha na pinga.
PADRE SIMÃO: O senhor quer matar as minhas beatas? Ao invés de pegar essa gripezinha elas vão ficar é com pneumonia. Qual a vantagem nisso?
(...)
terça-feira, 3 de novembro de 2009
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